quinta-feira, 26 de junho de 2008

Herança

Negro como a noite sem luar, trancado nesse mundinho que os elementos me deram de presente. Ardendo de ódio, sentimento dos suicidas, um exemplo, não. Uma história a querer que lembrem, a querer que completem assim como fiz com as minhas inacabadas.

Tenho procurado arquivos, vestígios de comunicação com o incomunicável, aquele que me fez chorar pelo que já não lembrava mais exceto quando sonhava acordado. Desespero-me a encontrá-lo, pois já não me escreve mais com antes. Trancado em seu esconderijo envelhecido camuflado com jornais que, na verdade, são coleções de arquivos e histórias de suicidas.

Não há virtude nisso tudo, mas também não há maldade.

Almejo o que jamais terei. Todos os dias, sem cansar. O ódio corrói como ácido sobre minha pele desnudando-a para mostrar minha carne e seus vermes que habitam sob ela.

Tenho almejado a ufania, pois assim não estaria me sentindo dessa forma, mas como eu não a alcanço. Desejo mesmo a morte assim como aqueles que semelhante a mim morreram deixando nada além do que arquivos suicidas, lindas histórias de coragem e de covardia. Eles têm deixado por herança apenas histórias trancadas no porão.


Esquecidas não.
Não conhecidos.

Estão a serem descobertos não importa o tempo.
O século deles se aproxima e nele haverá uma conferência. Serão reconhecidos nas reuniões dos suicidas, na Conferência dos Inocentes diante da secreta Sociedade dos Condenados e poderão ver claramente as lágrimas de sangue sobre a Carta-mestre envelhecida escrita em papel quase deteriorizado pelo tempo, tempo esse que torna na lembrança de todos, aquilo que era negro em apenas uma imagem como velhas enciclopédias numa estante de um mosteiro. Consegue sentir o cheiro de carne humana?

Sangue...
Sangue...
Carnes humanas de ucharia.

OBS: Esse texto foi escrito dia 14/02/08


Digho’s Death http://digho.blogspot.com

Um comentário:

Fernando Gomes disse...

bem dark mesmo.. não é meu tipo de texto favorito, mas me chamou atenção de alguma forma.
;D